61º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia da Febrasgo – CBGO 2023

Dados do Trabalho


TÍTULO

Disparidades raciais e mortalidade materna no Brasil: uma análise de banco de dados nacional

OBJETIVO

Avaliar a mortalidade materna (MM) em mulheres pretas, pardas e brancas no Brasil, conforme determinantes geográficos, faixa etária, causas de mortalidade e nos períodos anterior e durante a pandemia do COVID-19.

MÉTODOS

Utilizamos dados públicos disponíveis em dois sistemas do Ministério da Saúde, Painel de Monitoramento de MM e de Nascidos Vivos (NV), no período de 2017 a 202. A Razão de Morte Materna (RMM) foi calculada pela divisão dos casos de MM pelos NV, expressa a cada 100.000 NV. Os dados foram categorizados segundo a cor da pele em Pretas, Pardas e Brancas, conforme autodeclaração informada no parto. Foram comparadas as RMM entre pretas pardas e brancas, nas cinco regiões do Brasil, conforme idade materna (0-19, 20-29, 30-39, 40+), causas indiretas ou diretas (hipertensão, hemorragia, infecção e aborto) e nos períodos anterior (2017-2019) e durante a pandemia (2020-2022). Foi utilizado o teste Q2 e foram obtidas as razões de prevalência com intervalo de confiança de 95%, utilizado o EpiInfo 7.0.

RESULTADOS

De 2017 a 2022, ocorreram 10.743 casos de MM e 158.06.414 NV no Brasil, e a RMM do período foi de 68,0/100,000 NV. A RMM foi quase duas vezes maior entre mulheres pretas em comparação com brancas (125,81 vs 64,15 RP:1,96 CI:1,84-2,08, p<0,001) e pardas (125,8 vs 64,0 RP 1,96 CI: 1,85-2,09, p<0,001). Em todas as regiões, a RMM foi maior entre as pretas, chegando a 186/100.000 NV na região Norte. Na região Sudeste, a RMM entre pretas e brancas apresentou a maior diferença (115,5 vs. 60,8, RP 2,48 IC 2,03 –3,03, p<0,001). Em todas as faixas etárias, a RMM foi maior entre mulheres pretas em comparação com brancas ou pardas. As mulheres brasileiras morreram em sua maioria por causas diretas, sendo a hipertensão a principal causa, a RMM por hipertensão foi maior para as pretas com relação às brancas (25,6 vs. 8,97; RP 2.85 IC:2.45-3.32) e pardas (25,6 vs. 10,9 RP 2,35 IC: 2,05-2,70). As mulheres pretas, comparadas às brancas e pardas apresentaram maior RMM para todas as causas.

CONCLUSÃO

A RMM entre mulheres pretas no Brasil foi maior em comparação com as brancas e com as pardas, durante todo o período avaliado, em todos os anos, em todas as regiões brasileiras, em todas as faixas etárias e por todas as causas. A cor de pele preta tem um papel determinante na MM no Brasil. Reduzir disparidades raciais em saúde é fundamental para redução da MM.

PALAVRAS-CHAVE

mortalidade materna; inequidades em saúde; disparidades raciais; assistência obstétrica.

Área

OBSTETRÍCIA - Epidemiologia das doenças gestacionais

Autores

Amanda Dantas Silva, JOSE PAULO SIQUEIRA GUIDA, Debora Souza Santos, Silvia Maria Santiago, Fernanda Garanhani Surita