Dados do Trabalho

TÍTULO

Morbidade relacionada ao aborto em três Estados do Brasil: resultados do “Estudo Multipaís da OMS sobre morbidade relacionada ao aborto”

OBJETIVO

Caracterizar a gravidade das complicações relacionadas ao aborto, descrever o tratamento e relatar a experiência de mulheres com o cuidado recebido em alguns hospitais brasileiros.

MÉTODOS

Estudo de corte-transversal realizado em hospitais aleatoriamente selecionados em dois estados e no Distrito Federal (DF). Foram sorteados até 10 hospitais por estado que preenchessem os seguintes critérios: >1000 partos-ano, >10 abortos-mês e disponibilidade de centro cirúrgico. Com isso, 20 hospitais (10 no DF, 3 em Rondônia e 7 no Maranhão) foram incluídos. Durante 3 meses, todas as mulheres atendidas por abortamento tiveram seus dados colhidos do prontuário. Foram excluídos casos de ectópica/mola. A gravidade das complicações foi classificada de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde. Mulheres com hemorragia, infecção ou órgãos perfurados foram convidadas a responder uma entrevista audioguiada sobre a experiência com o cuidado recebido na alta. A análise estatística foi realizada através do teste do qui-quadrado e modelo linear generalizado.

RESULTADOS

Foram incluídas 1683 mulheres. As complicações foram classificadas em leves (82,7%), moderadas (14,1%), potencialmente ameaçadoras da vida (2,6%) e ameaçadoras da vida (0,6%). O tratamento incluiu esvaziamento uterino (EU) cirúrgico associado a uterotônicos em 60,7% dos casos, EU cirúrgico exclusivo em 25,5% e EU exclusivo com medicamentos em 8%. Os métodos de EU mais frequentemente utilizados foram a curetagem uterina (67,3%) e a aspiração manual intrauterina (30,9%). Os uterotônicos mais frequentemente utilizados foram o misoprostol (45,2%), a ocitocina (14,2%) e a combinação de ambos (13,4%). Transfusão sanguínea foi realizada em 1,3% dos casos e 0,3% foram internadas em UTI. Ser atendida no Maranhão (OR 0,2; 95% IC 0,1–0,6) se associou a menor chance e ter idade gestacional > 12 semanas (OR 4,0; 95% IC 1,6–9,8) se associou a maior chance de complicações ameaçadoras ou potencialmente ameaçadoras da vida. A maioria (94,3%) das mulheres que responderam à entrevista relatou ter sido tratada com gentileza, entretanto, 65,7% se sentiram estressadas e 10% relataram que suas preferências não foram respeitadas na internação.

CONCLUSÃO

Este é um dos primeiros estudos usando metodologia padronizada para avaliar a gravidade das complicações do aborto no país. Os resultados podem ajudar no desenvolvimento de políticas de saúde pública para garantir os direitos sexuais e reprodutivos no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE

Hemorragia Uterina; Mortalidade Materna; Vigilância em Saúde Pública