Dados do Trabalho
TÍTULO
CHIKUNGUNYA NA GESTAÇÃO: ALERTA PARA REPERCUSSÕES MATERNAS GRAVES A PARTIR DE RELATOS DE CASOS
CONTEXTO
Chikungunya é uma arbovirose causada por vírus (CHIKV) que possui transmissão também por via transplacentária, especialmente em gestantes sintomáticas no período periparto, quando o risco de transmissão materno-fetal é maior.
DESCRIÇÃO DO(S) CASO(S) ou da SÉRIE DE CASOS
Caso 1: K.B.S.M., 28 anos, admitida com gestação de 31+6 semanas e relato de febre, mialgia e artralgia. Ao exame, febre elevada, taquicardia, hipotensão e exantema. Evoluiu com piora do estado geral e dessaturação. Ecocardiograma evidenciou derrame pleural e pericárdico. Apresentou PCR para chikungunya detectável e sorologias negativas para dengue e zika. Encaminhada ao CTI, sendo mantido sintomáticos e suporte respiratório para estabilidade clínica até alta hospitalar. Mantém seguimento em pré-natal alto risco.
Caso 2: C.V.O.A., 27 anos, admitida com gestação de 26 semanas e relato de febre, mialgia, artralgia e exantema. Apresentou piora súbita do padrão respiratório, sendo transferida para CTI e intubada. O RX tórax apresentou velamento de bases e infiltrado intersticial, sugestivo de hemorragia alveolar. Ecocardiograma estava normal. Prescrito antibiótico de amplo espectro. Mantinha picos febris recorrentes. Constatado decesso fetal com 27 semanas e realizada indução do parto, tendo evoluído para parto vaginal com feto sem aparentes malformações. Sucedeu com piora progressiva, febre alta e contínua, hipoxemia sem melhora, evoluindo com choque refratário e óbito 14 dias após admissão. Em aspirado traqueal e urocultura identificou-se Cândida sp, sem crescimentos de patógenos nas hemoculturas. O MAC-ELISA para chikungunya foi detectável, sendo liberado 2 meses após o óbito.
COMENTÁRIOS
Os casos apresentam situações pouco comuns no dia-a-dia obstétrico. Há pouca literatura publicada sobre desfechos maternos adversos na infecção por CHIKV na gestação. Um estudo observacional na Índia em 2016 evidenciou que a infecção está associada ao aumento da morbidade gestacional e mortalidade fetal. Apesar disso, a maior parte da literatura registra que grávidas infectadas não apresentam risco aumentado de doença atípica ou grave e não têm efeitos teratogênicos. Atualmente, não há terapia antiviral específica e o manejo na fase aguda é de suporte. É importante que obstetras tenham conhecimento dessas apresentações atípicas durante acompanhamento de gestantes com suspeita clínica de arboviroses para estabilização materna e seguimento obstétrico adequado.
OBS: trabalho submetido à Plataforma Brasil e ao CEP, aguardando liberação do CAAE
PALAVRAS-CHAVE
Febre de Chikungunya; Gravidez; Infecções por Arbovirus
Área
OBSTETRÍCIA - Doenças infecciosas na gestação
Autores
Anelise Oliveira de Morais, Inessa Beraldo de Andrade Bonomi, Ana Christina de Lacerda Lobato, Mariana Campos Belo Moreira