Dados do Trabalho

TÍTULO

DISTÚRBIOS VISUAIS SECUNDÁRIOS AO USO DO CITRATO DE CLOMIFENO PARA ESTIMULAÇÃO OVARIANA CONTROLADA

CONTEXTO

Citrato de clomifeno (CC) é um modulador seletivo do receptor de estrogênio usado na primeira linha de tratamento para infertilidade. A literatura mostra que, apesar de rara, a indução ovulatória (IO) com CC pode ser associada a distúrbios oftalmológicos, dentre os quais ressalta-se palinopsia transitória, perda visual aguda, diplopia, escotomas e neuropatia óptica. Este trabalho objetiva relatar um caso em que a IO com CC, para fertilização in vitro (FIV), causou alterações visuais transitórias e alertar para a necessidade de investigação de queixas visuais durante a abordagem terapêutica.

DESCRIÇÃO DO(S) CASO(S) ou da SÉRIE DE CASOS

Mulher de 35 anos, G0P0A0, com ciclos menstruais regulares e hábitos saudáveis. Em uso do anel vaginal há 4 anos, cessado há 3 meses. Negou histórico familiar de doenças. Desejava realizar FIV com teste genético pré-implantacional para aneuploidias. Exames pré-procedimento sem alterações, hormônio antimulleriano de 2,1 ng/mL e ultrassonografia basal evidenciando 13 folículos antrais. Paciente iniciou IO com corifolitropina alfa 125mcg e CC (2 comprimidos/dia). No 5º dia, a paciente relatou alterações visuais (diplopia e turvação visual). Orientou-se a suspensão do CC e a avaliação oftalmológica. Ao exame, apresentou acuidade visual de 20/20 em ambos os olhos, biomicroscopia, fundoscopia e campimetria sem alterações e ausência de estrabismo manifesto e latente. Houve remissão dos sintomas horas depois. Seguiu-se IO sem CC. No 7º dia, introduziu-se menotropina 225 UI e acetato de cetrorelix. Após 10 dias de IO, apresentava 13 folículos > 18mm no dia do “trigger”, que foi realizado com triptorrelina. A paciente não apresentou alterações visuais no restante do tratamento. Realizada a captação de 10 óvulos, 8 estavam em metáfase II. Destes, 4 blastocistos foram biopsiados e todos euploides.

COMENTÁRIOS

Estima-se que cerca de 1,5% dos pacientes referem efeitos visuais adversos após o seu uso. Os efeitos variam entre aparecimento de escotomas, visão turva, borramento visual, fotofobia, diplopia e periflebites. A etiopatogenia desses sintomas não é totalmente esclarecida, embora estudos sugiram que o CC afeta indiretamente o córtex visual ou que causa toxicidade retiniana direta. Ainda, alterações vasculares resultantes do aumento de estradiol trombogênico podem predispor a neuropatia óptica isquêmica. O ginecologista deve informar ao paciente possíveis efeitos adversos do CC e diante do aparecimento de alterações visuais, o tratamento deve ser interrompido.

PALAVRAS-CHAVE

Reprodução humana; clomifeno; oftalmologia.