Dados do Trabalho

TÍTULO

A AUTOMEDICAÇÃO NA VULVA: RISCOS E CONSEQUÊNCIAS – UM RELATO DE CASO

CONTEXTO

Consequente da infecção pelo HPV, o condiloma acuminado é queixa comum em consultas desde a atenção básica ao especialista. Pode ser tratado em domicílio, com imiquimode ou podofilotoxina, ou ambulatorialmente, com ácido tricloroacético (ATA), podofilina, eletrocauterização, entre outros. Objetiva-se relatar o caso de paciente com queimadura vulvar extensa após uso domiciliar de ATA, baseando-se em prontuário e fotografia com autorização da paciente.

DESCRIÇÃO DO(S) CASO(S) ou da SÉRIE DE CASOS

Paciente, 23 anos, nuligesta, procurou ambulatório de Patologia Vulvar após ter utilizado ATA a 85% na vulva, por conta própria, para tratar condiloma acuminado. Referia que lesões condilomatosas tinham surgido há 6 meses e apresentaram rápido crescimento. Relatava ter procurado Unidade Básica de Saúde e, pela dificuldade no acesso, buscou solução em farmácia, sem orientação médica. Negava cirurgias, comorbidades e infecções prévias. À inspeção, vulva com área extensa de queimadura, áreas de necrose, hiperemia, infecção secundária e resquícios de lesões HPV-induzidas. Optou-se por tratar a infecção secundária com antibioticoterapia tópica e oral e prescreveu-se vaselina para alívio sintomático. A paciente retornou após 2 semanas com melhora acentuada da infecção secundária, que possibilitou melhor visualização das áreas de queimadura e de condiloma e revelou área de leucoplasia, que foi biopsiada. Iniciou-se o tratamento cauteloso e ambulatorial das lesões condilomatosas com ATA. A paciente retornou novamente após 1 mês, com melhora acentuada do quadro e a partir de então seguiu-se com consultas quinzenais. O anatomopatológico da biópsia constatou HPV. Após 6 meses, paciente teve melhora total do quadro, permanecendo apenas algumas áreas discrômicas cicatriciais na vulva, mascaradas pelo retorno da pilificação local.

COMENTÁRIOS

Utiliza-se ATA em diversas concentrações para diferentes fins, seja inspeção cervical ou tratamento de lesões verrucosas. Entretanto, o seu uso deve ser restrito ao médico, visto os possíveis danos em pele ou mucosa saudáveis. Todavia, a prática da automedicação é fortemente presente no Brasil, principalmente entre mulheres jovens. Neste contexto, apesar dos avanços na atenção primária, a persistência de dificuldades de acesso e demora no atendimento, aliadas à venda de medicações sem prescrição médica, contribui para o aumento da automedicação e de casos como o apresentado. Necessita-se, então, de maior atenção a este grupo populacional, para possibilitar acesso à prevenção e tratamento precoce.